São Paulo 450 Anos
Poética da Urbanidade - Estudos interculturais
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Materiais para as discussões do Colóquio Internacional de Estudos Interculturais (2004)
ATENAS-SÃO PAULO NO PROGRAMA DE ESTUDOS INTERCULTURAIS "POÉTICA
DA URBANIDADE" PELOS 450 ANOS DE SÃO PAULO
A ACRÓPOLE E A COLINA DO TRIÂNGULO
Atenas, 20 de setembro de 2003
Súmula
A edificação de cidades no alto de colinas e montes, a "cidade alta" de muitos complexos urbanos ainda hoje existentes não deve ser considerada apenas como resultado do acaso ou da procura de proteção e defesa sob o plano exclusivamente material. Ela implica em simbolismo de antigas raízes.
Modêlo por excelência das acrópoles é aquela de Atenas. Esse monte,
situado entre dois vales onde correm rios, foi, na época micênica,
residência do rei de Atenas. Ao redor do ano 1250 a.C. foi fortificada
com grandes muros. Somente após o século VI a.C. é que a cidade
parece ter-se tornado entidade distinta . Até então, a Acrópole
era também a cidade, denominada igualmente de Polis. Já pelo menos
desde 580 a. C. a Acrópole possuiu um templo de Atenas (=Minerva).
Desde então, o culto dessa deusa da sabedoria passou a ser o centro
religioso não só da cidade como também, gradualmente, de toda
a região.
Culto à Sabedoria não é o culto do Saber. Diferentemente dos conhecimentos
que o homem adquire a partir do mundo exterior, perceptível através
dos sentidos, mundo sujeito à temporalidade e portanto mutável,
a Sabedoria orienta-se segundo critérios a-temporais ou perenes.
Somente na sua vida interior, portanto, pode o homem elevar-se.
O altar de Atenas no alto da Acrópolis pode ser visto como símbolo
da elevação da vida interior da cidade acima dos baixos da vida
terrena. A vida mental da comunidade se eleva, une-se à Divindade,
que é a verdadeira Sabedoria, e torna-se assim sede da mesma.
Há aqui, portanto, uma relação estreita entre o culto da Sabedoria,
da Polias, e as concepcões urbanas. Trata-se, na dicotomia da
cidade com relação à vida espiritual e à vida material dos seus
habitantes, do reconhecimento de que a vida interior deve dominar
a terrena, deve ser a senhora desta, deve sujeitá-la. Disciplinada,
esta se torna laboriosa, um veículo para o crescimento do bem
estar, de natureza civilizatória. Assim, a vida da cidade de Atenas
orientava-se pelo culto da vida interior.
O próprio mito de Atena, a Virgem, exprime claramente o seu vínculo
com a vida interior ou mental. Ela era inimiga da vida dedicada
ao acúmulo de riquezas, assim como prejudicava os troianos. Ela
era a senhora da vida laboriosa, do plantio de oliveiras e da
agricultura. Segundo Platão, teria sido ela que trouxera a cultura,
que dera aos homens o sentido pela ordem do Estado. Era a deusa
da medida nas ações e do bom senso.
A sua função de soberana altiva, dominadora da vida ativa, explica
também o vínculo que mitologicamente tinha com Hefaisto, o deus
do fogo subterrâneo, dos ferreiros e artesãos. Este era regido
por Venus, divindade da vida sensorial, e esta era dominada pela
vida interior. Na interpretação gnóstica, o ferreiro representava
aquele que, na vida ativa, procurava implantar na matéria forma
que captava de esferas mais altas. Tinha de lutar, porém, com
o defeito inerente à matéria, a sua perenidade, espécie de dragão
que impedia a sua obra demiúrgica.
O apóstolo de Atenas foi São Paulo, que ali atuou entre os anos
de 49 e 57/58. A imagem desse apóstolo foi, na literatura e nas
artes da Idade Média, sobretudo marcada pelo motivo de sua conversão,
festejada no dia 25 de janeiro.
No ensino jesuítico dramatizado, contrapunha-se o Saulo colérico,
perseguidor de cristãos, ao iluminado Paulo, o propagador da fé.
É significativo, portanto, que uma cidade que traz o nome desse
apóstolo dos gentios e que se vincula historicamente com a data
de sua conversão tenha sido fundada numa acrópole e que o seu
principal templo tenha sido dedicado à Virgem.
Antonio Alexandre Bispo