São Paulo 450 Anos
Poética da Urbanidade - Estudos interculturais
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Materiais para as discussões do Colóquio Internacional de Estudos
Interculturais (2004)
BRESLAU-SÃO PAULO NO PROGRAMA DE ESTUDOS INTERCULTURAIS "POÉTICA DA URBANIDADE" PELOS 450 ANOS DE SÃO PAULO
RECUPERAÇÃO DE IMAGENS E PROBLEMAS DE RECONSTRUÇÃO HISTÓRICA
Breslau, 8 de junho de 2003
Súmula
Em cidades do Leste europeu que não foram essencialmente danificadas na Segunda Grande Guerra, a reconsideração dos espaços sob a nova situação política não se apresenta de tão difícil solução como naquelas cidades que foram vítimas de grandes bombardeamentos.
Naqueles casos, trata-se sobretudo da intensificação de uma nova cultura de diferenças, valorizando e emprestando novos significados a edifícios e espaços transmitidos pelo passado. Em cidades que foram quase que totalmente destruídas, porém, a situação é outra. Trata-se da recuperação de imagens perdidas e de problemas de reconstrução histórica. A reconstrução, no caso, não é apenas uma questão técnica e de artesanato. Ela exige escolha daquilo que deve ser reconstruído, da época da fisionomia urbana que se deseja reviver e deveria também incluir debates a respeito da conveniência de tais reedificações.
Reconstruções, mesmo em espaços vazios, exigem o apagar de traços,
a deconstrução histórica de parte da experiência vivida. A memória
e o significado dos espaços se modificam. Se a percepção dos espaços,
se a imagem da cidade, em semelhança à percepção da música, é
tão influenciada por essa carga de significados e pela memória,
então a reconstrução de cidades jamais pode vir a ser completa.
Ela permanece e permanecerá sempre como um cenário. Isso não quer
dizer, naturalmente, que a construção de cenários não tenha interesse
e valor. Trata-se, no caso, de uma encenação cultural que diz
muito mais a respeito dos conceitos e dos anseios da sociedade
que reconstrói do que a respeito do seu próprio passado.
Exemplo extraordinário de reconstrução arquitetônica e urbanística
oferece a cidade de Breslau, principal cidade da Silésia, Polonia.
A imagem que dela se conservou foi a de uma das mais significativas
da Europa, caracterizada por obras arquitetônicas altamente representativas
das diferentes épocas, sobretudo do Barroco.
A destruição praticamente total dessa cidade em fins da Segunda Guerra levou à perda de substância arquitetônica e artística irrecuperável. A reconstrução do centro da cidade, modelar pela qualidade artesanal das reedificações, impressiona pela recriação de espaços e pela atmosfera que sugere. Entretanto, a análise cultural de situações como essa não pode ser ofuscada pela qualidade museológica das reconstruções. Ela deve ser levada mais a fundo, levantando questões a respeito do próprio processo histórico, de sua construtividade e dos critérios que deveriam ser seguidos para possíveis reconstruções. A reconstrução histórica não parece que deveria ser compreendida como recuperação ou revivência de um passado perdido, o que não corresponderia aos fatos. Ela necessitaria ser vista como uma decisão consciente de determinada época e como expressão da imagem que a respectiva sociedade faz do seu passado. Complica-se, portanto, a situação da análise cultural. Já não se tem apenas a questão da percepção do urbano e da criação de imagens da cidade. Trata-se, aqui, da projeção de imagens na cidade a ser reconstruída, e a sua percepção nada mais seria do que a percepção da própria imagem.
Antonio Alexandre Bispo