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			Poética da Urbanidade - Estudos interculturais
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Materiais para as discussões do Colóquio Internacional de Estudos Interculturais (2004)

Em várias áreas das ciências da cultura, em particular na musicologia, mas também na ciência das religiões, pode-se dizer que houve, nas últimas décadas, uma crescente conscientização da relatividade dos fatos culturais e da riqueza que a diversidade cultural oferece. Curiosamente, essa sensibilidade pelas diferenças culturais dos diversos povos e nações pouco se faz sentir na área da urbanística. A expansão urbana se apresenta quase que como um produto inquestionável da evolução, quase que como um fenômeno natural e não como um produto cultural, que sempre é algo construído e, assim, também apto a ser deconstruído e reconstruído.

As propostas do modernismo, expressos por excelência na Carta de Atenas demonstram o cunho absolutista, universalizante das concepções urbanísticas. Essa conceituação universalista da cidade explica-se a partir do fascínio exercido pela tecnologia na era industrial e pelo retorno a ideais do Clássico. De fato, o Classicismo nas artes sempre levou a soluções universalistas.

Um modêlo por excelência da universalidade do Classicismo na história do urbanismo é a cidade de Odessa, considerada uma das mais belas do Leste. Apesar de ser uma cidade portuária de importância, mantém o seu caráter de cidade de veraneio, de estância balneária e de centro cultural. A disposição da cidade segue princípios racionais na sua malha reticulada, nas vias largas e nos seus grandes parques. A cidade foi resultado de planejamento e de grande atividade construtiva encetada após a conquista de um forte ali localizado pelos russos, em 1789. O nome da cidade, que remonta à antiga denominação de um povoado que se supunha ter estado ali localizado na Antiguidade, indica que houve a tentativa, desde o início, de se retomar um pretenso florescimento de épocas passadas. A disposição dos palácios e dos parques é notável, os projetos edificados demonstram um alto nível de concepção arquitetônica e conhecimento dos desenvolvimentos contemporâneos nos grandes centros europeus.

No decorrer do século XIX, Odessa experimentou um extraordinário crescimento, grande parte de sua população era de origem grega. Desde 1835 tornou-se sede de uma universidade, e vários institutos de pesquisa foram criados. A importância da cidade como centro cultural manifesta-se ainda hoje nos seus teatros e museus.

O racionalismo que se observa na malha viária, as proporções de seus espaços, a medida e a ordem na distribuição de seus edifícios, os seus monumentos e colunadas sugerem reflexões a respeito das relações entre o classicismo e a concepção de cidade mental ou cidade luz. Percebe-se que ali houve a tentativa de disciplinar ao máximo a vida ativa, oferecendo a ela claras orientações espaciais segundo critérios abstratos, geométricos ou lógicos. É uma cidade de grandiosidade silenciosa. A vida ativa é dominada por uma cidade abstrata, e os seus pontos salientes são templos da cultura, museus e teatros.

Antonio Alexandre Bispo