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O BRASIL E O IDEAL MOZARTIANO (1991)
Antonio Alexandre Bispo
Parece importante lembrar que o Brasil não esteve alheio ao início do culto à memória de Mozart em Salzburg do século XIX. Este teve como marco fundamental a inauguração do monumento ao compositor e a realização da primeira Festa Mozart, em 1842, sob a direção de Sigismund Ritter von Neukomm, que trazia na memória o seu trabalho divulgador da obra de Mozart no Brasil. Após a instituição da Fundação Internacional Mozart, em 1871, o barão Carl von Sterneck (1813-1893), em nome de sua presidência, escreveu uma carta ao imperador do Brasil, .D. Pedro II, solicitando o seu apoio à obra. Em 1874, o Enviado Extraordinário e Ministro Plenipotenciário do Brasil na França, Visconde de Itajubá, tomava conhecimento da autorização dada ao Ministro na Áustria, Visconde de Porto Seguro, Francisco Adolfo de Varnhagen, para que este auxiliasse com 200 florins a Fundação Internacional Mozart.(M. W. de Aragão Araújo, Pedro II e a Cultura. Rio de Janeiro 1977, 76-77) A sociedade de música da Catedral (Dommusikverein) foi fundada, juntamente com o Mozarteum, meio século após a morte de Mozart (1841). O já existente (antigo) Mozarteum, sob a direção de Alois Taux (1841-1861), Hans Schläger (1861-1868) e Otto Bach (1858-1880) foi uma instituição que promoveu a formação de instrumentistas e incentivou o cultivo doméstico da música, da qual participaram personalidades como J. Joachim (1831-1907), Clara Schumann (1819-1896), J. Brahms (1833-1897) e P. Cornelius (1842-1874). Passando, em 1880, a pertencer à Fundação, o (antigo) Mozarteum teve a sua denominação mudada para Fundação Internacional Mozarteum. Até 1908, o Mozarteum esteve sob a orientação de Joseph Friedrich Hummel (1841-1919). Dois compositores assumiram por curto espaço de tempo a direção da escola: Josef Reiter (1862-1939), de 1908 a 1911, e Paul Graener (1872-1944), de 1911 a 1913/14. Em 1914, ano da inauguração do novo edifício, cuja solenidade não se efetivou pelo assassínio do Príncipe Herdeiro - início da I Grande Guerra -, o escopo do Mozarteum foi definido em função de um "Espírito de Mozart": "(....) a mais alta expressão daquelas forças que de resto atuam silenciosamente, mas não menos energicamente e que foram chamadas para conservar a herança de Mozart (...)" (M. Morold, "Festpräludium", Musica divina (1914), 299-303, 303) Desde 1914 apresentando a honrosa denominação de Conservatório, outorgada pelo Imperial e Real Ministério de Cultura e Educação da Áustria, o Mozarteum passou por transformações internas destinadas a fazer jus ao novo status. Como os diretores anteriores tinham abandonado o cargo para dedicarem-se à composição, a Curadoria da Fundação procurou dar preferência a musicólogos, institutindo um triunvirato diretivo, encabeçado por Robert Hirschfeld (1858-1914), seguido por Eugen Schmitz (1882-1959). Após um curto período sob a orientação de E. Schmitz, a direção passou provisoriamente às mãos de Josef Hutarry (1871-1967) e Franz Ledwinka (1883-), este auxiliado pelo antigo diretor, Hummel. No dia 2 de setembro de 1917, a Curadoria da Fundação Internacional Mozarteum elegeu o jovem Dr. Bernhard Paumgartner (1887-1971) para dirigir a instituição. Essa nomeação significou o início de um dinamismo sem precedentes na história do Mozarteum. Paumgartner foi diretor do Mozarteum de 1917 a 1938 e de 1945 a 1949, participou da fundação dos Festivais de Salzburg, em 1920, e dirigiu, a partir de 1919, a Orquestra Mozarteum. Como musicólogo, Paumgartner defendeu a união da pesquisa com a prática e, dentre as suas obras, salienta-se a biografia dedicada a Mozart (Mozart, 1940), reeditada várias vezes e publicada em diversos idiomas. Paumgartner foi o grande mentor de Martin Braunwieser, apoiando-o na sua carreira e a ele devotando uma amizade que durou toda a vida. Seria com o seu apoio que Renata Braunwieser realizaria os seus estudos em Salzburg. A tradição musicológica a que se prendeu Paumgartner derivou de seu pai, Dr. Hans Paumgartner, de Guido Adler (1855-1941) e Eusebius Mandyczewski (1857-1927). Sobretudo na tradição fundada por este último erudito é que se enraizou o trabalho de revalorização de J.S.Bach a que M. Braunwieser futuramente se dedicaria. Filho de Maria e Franz Braunwieser (1866-1947), Martin Braunwieser nasceu em Salzburg, em 1901. Através de seu pai, um regente cuja dedicação seria futuramente reconhecida com a sua nomeação a mestre-capela honorário da Musikkapelle Maxglan, Martin Braunwieser cresceu em contacto com a música das associações corais e instrumentais de Salzburg. Foi menino de coro e, ao trocar de voz, instrumentista de orquestras-de-igreja. Durante a sua infância, a vida musical profana de Salzburg foi marcada pelas atividades do teatro municipal local e pela realização de festividades musicais em torno do nome de Mozart e que contaram com o apoio dos mais altos círculos da Monarquia Áustro-Húngara. Todas as atenções concentraram-se na construção da Casa Mozart, cuja pedra fundamental foi lançada em 1910. Tanto na esfera sacra, quanto na profana, a formação musical de Martin Braunwieser decorreu sob a égide de Mozart. As circunstâncias econômico-sociais do difícil período do Pós-Guerra na Áustria explicam, em parte, o extraordinário espírito empreendedor que reinou nos anos de Martin Braunwieser no Mozarteum. Ele foi aluno de viola da classe do Prof. Schweyda e de flauta da classe do Prof. Anton Schöner. Participou de cursos de B. Paumgartner, que proferia conferências em história da arte e da música e que orientou a classe de música de câmara. Em junho/julho de 1919, no primeira manifestação pública do dinamismo de B. Paumgartner como diretor, Martin Braunwieser teve a oportunidade de vivenciar Die Hochzeit des Figaro, de W.A.Mozart. No dia 26 de fevereiro de 1919, Martin Braunwieser apresentou-se pela primeira vez com violista, sendo acompanhado pelo seu colega Erich Schenk (1902-1974). Este companheiro de Martin Braunwieser,também natural de Salzburg, tornou-se uma das mais destacadas personalidades da musicologia austríaca: doutorando-se em 1925 em Munique, fundou mais tarde o Instituto de Musicologia de Rostock, atuou na Universidade de Viena e publicou numerosas obras musicológicas, entre as quais os Monumentos da Arte Sonora da Áustria. Seria ao seu colega E. Schenk que Martin Braunwieser dirigiria a sua filha Renata para iniciar os seus estudos de Musicologia, em 1958/59. Neste concerto de 26 de fevereiro de 1919, Martin Braunwieser participou também da execução do Quarteto em sol menor (K.V. 478) de W. A. Mozart. No Primeiro Concerto de Encerramento desse ano letivo, no dia 18 de junho, apresentou-se como solista do Concerto para Flauta em ré maior (K.V. 314), com cadências de J. Andersen (1847-1909), sendo altamente elogiado pela crítica pela sua "execução excelente, absolutamente livre de erros", "com muita e verdadeira instrospecção, limpeza e completo domínio de seu instrumento". Nas comemorações dedicadas aos 200 anos de nascimento de Leopold Mozart (1719-1787), em 1919, Martin Braunwieser apresentou-se como executante do Concerto em sol maior para flauta de W. A. Mozart. Como intérprete de obras de Mozart, Martin Braunwieser participou também em eventos de sociedades de amadores, como o realizado no dia 18 de dezembro, em St. Johann i. Pongau. No dia 24 de março de 1920, Martin Braunwieser participou, como violista, da execução do Quarteto em mi bemol maior, em Hallein. Quatro dias mais tarde, em 28 de março, ele voltou a se apresentar, desta vez como violista, em concerto de câmara realizado no Ginásio Municipal de Salzburg, cujo programa incluiu o Trio n° 2 em si bemol maior K.V. 502. Como membro da associação de estudantes do Mozarteum, M. Braunwieser tomou parte na execução do Trio em mi bemol maior K.V. 498, levada a efeito no dia 1 de julho de 1920. O cultivo da obra de Mozart fez parte, em Salzburg, da própria consciência cultural da cidade. Independentemente dessa tradição, Martin Braunwieser vivenciou o despertar de interesses pela música do passado mais remoto, marcado publicamente pelo I Concerto de Música de Mestres Antigos, realizado no dia 19 de abril de 1921. Os vínculos entre a obra de Mozart, a música antiga e as mais atuais correntes da composição contemporânea, através da personalidade de Felix Petyrek (1892-1951), deu-se segundo a concepção cultural compreendida sob o termo Espírito de Mozart. O conceito de Festival (Festspiel) há muito vinha exercendo particular fascínio em determinados círculos artísticos e intelectuais do mundo de língua alemã. Entendido na plenitude do termo, o conceito despertava associações com o drama grego no seu contexto cultual originário e com os mistérios medievais: em outras palavras, tratava-se da interação de culto e cultura fora da ação litúrgica. Já há muito vinha-se pensando na construção de uma Casa de Festivais para Mozart, em Salzburg. Após a I Grande Guerra, o plano de retomada da longa série das Festas de Mozart vinculou-se com o conceito de Festival, no qual a própria paisagem e a cidade se integrariam numa ação artística global. Em 1917, fundou-se em Viena, através de iniciativa de Heinrich Damisch, uma sociedade denominada Casa de Festivais de Salzburg (Salzburger Festspielhaus-Gemeinde), à qual pertencia Rosa Paumgartner-Papier, mãe de B. Paumgartner. O Reichspost de Viena, em 1918, anunciou a construção dessa Casa. A idéia tomou corpo em 1920, graças à atuação de M. Reinhardt (1873-1943), A. Roller (1864-1935) e H. v. Hofmannsthal (1874-1929). O escopo era "servir ao patrimônio clássico do mundo", esperando-se que pessoas de outras nações viesse alí procurar o "que não achariam facilmente em outro lugar". As nações deveriam conhecer-se naquilo que possuissem de mais elevado, não no trivial. Os iniciadores do Festival queriam "semear a paz espiritual". Martin Braunwieser vivenciou intimamente esta época preparatória dos Festivais de Salzburg, assistiu à sua inauguração e deixou-se influenciar pelas aspirações que guiavam a ação dos seus promotores, fato que se manifestou na sua composição "O Teatro do Mundo" (Spalato, 1923). A crise econômica e sócio-política da Áustria levou Martin Braunwieser a abandonar Salzburg. Como outros colegas dessa primeira geração formada no Mozarteum, o jovem Martin Braunwieser entendeu a sua ação no Exterior como uma missão propagadora dos ideais clássico-humanistícos que haviam guiado a sua formação. A sua futura esposa, Tatiana Kipman, de origem russa, que muitíssimo colaboraria para a difusão da obra de Mozart no Brasil, teve os seus primeiros contactos com as aspirações revalorizadoras do Classicismo em cursos realizados em Abbazzia/Opatija (Croácia), então sob a influência da personalidade do musicólogo Carlo Perinello (1877-1942), aluno do renomado teórico S. Jadassohn (1831-1902). A atuação de Martin e Tatiana Braunwieser em Atenas coincidiu com um período de renovação da vida musical grega, dirigida agora aos valores clássicos centro-europeus. Em 1925, D. Mitropoulos (1896-1960) assumiu a direção da Orquestra Estatal de Atenas (1925-1939). Nomeado a professor de flauta do Odeon, em 1926, Martin Braunwieser , juntamente com Tatiana, em fevereiro de 1927, tomou a si a iniciativa de organizar um concerto de flauta e piano. Este concerto incluiu a Fantasia em dó menor, de Mozart. Ao lado desse empreendimento do casal cumpre porém salientar uma das maiores realizações musicais da Grécia dos anos 20 e na qual Martin Braunwieser tomou parte: a execução do Requiem de Mozart no Estádio de Olímpia. No programa que marcou a estréia grega de Martin Braunwieser como compositor de cunho orientalista, levado a efeito em Atenas, no dia 3 de maio de 1928, foi incluída também uma composição de Mozart: a ária da Susana, do Figaro, cantada por Olga Lerche. O primeiro concerto do casal Braunwieser no Brasil, realizado na Sociedade Democrática Italiana de Bragança Paulista, no dia 22 de setembro de 1928, foi aberto com o Concerto para Flauta em sol maior de W.A.Mozart. Este mesmo concerto foi repetido no recital realizado no Theatro Republica, de Atibaia, no dia 7 de dezembro desse ano. Os esforços de divulgação da obra de Mozart na região bragantina prosseguiram nos anos seguintes, muitas vezes sob condições improvisadas. Assim, no dia 1 de outubro de 1931, no terceiro Concerto Popular da Sociedade dos Amadores da Arte Musical de Bragança Paulista, Tatiana Braunwieser executou o Concerto em ré menor para piano e orquestra, de Mozart. A orquestra foi formada com elementos locais e apresentava singular composição. A imprensa local não deixou de fazer altos elogios à executante e à obra do grande músico austríaco. Mesmo assim, não havia ainda, na época, plena compreensão pela arte mozartiana e pelos valores musicais preconizados pelo casal Braunwieser: "[...] as paginas que Mozart escreveu, para instrumentos com orchestra, não apresentam essas difficuldades que consagram os artistas. Pelo que pude observar, a sra. Tatiana seria magnifica e esplendida em um concerto de piano, interpretando os grandes mestres da música." (Bragança Jornal, 6 de outubro de 1931) Acompanhando os anúncios dos primeiros concertos realizados pelo casal Braunwieser em São Paulo, os jornais publicaram referências às elogiosas críticas de jornais austríacos a Martin Braunwieser como flautista e especialista em Mozart. No dia 25 de janeiro de 1929, no Salão Nobre do Circolo Italiano, em concerto patrocinado pela Associação Quarteto Brasil, Martin Braunwieser tomou parte da execução de um Quarteto para flauta, violino, viola e violoncelo de W.A.Mozart. No mesmo programa, Genny Petersen (canto), acompanhada por Amelie Petersen, interpretou obras mozartianas. No dia 27 de setembro do mesmo ano, a mesma Associação promoveu um concerto que, ao lado de obra de J. Gomes Junior (1868/71-1963), incluiu também um quarteto (XII) de W. A. Mozart. O jornal alemão comentou a obra: "O melhor número da noite foi, sem dúvida, o Quarteto n° 12 de Mozart. Pois essa musica magnifica com a sua estrutura clara, a sua riqueza em motivos, a sua movimentação leve, a sua sonoridade, é tão bela, que as obras modernas não a alcançam." (Deutsche Zeitung, 28 de setembro de 1929) A imprensa da colonia italiana ressaltou o italianismo de Mozart: "Le semplici melodie di questa opera sublime, dettate dalla geniale ispirazione del grande tedesco, hanno destato le più dolci sensazioni. In questa bellissima composizione - che di tedesco non ha che il nome dellautore perchè a tutti è nota la sua spiccata tendenza per la scuola italiana - i temi melodici si svolgono con sorprendente facilità e naturalezza. Le astruse elucubrazioni scientifiche come le nebulosità armoniche che intralciano sempre il corso naturalissimo di una bella frase, sono addirittura fuori duso per il Mozart". (Fanfulla, 28 de setembro de 1929) No âmbito da Sociedade Donau, em concerto promovido pelo Consulado Geral da Austria, no dia 19 de novembro de 1929, Tatiana Braunwieser executou a Fantasia em do menor de Mozart e acompanhou Lilly Kietz na ária da Susana do Figaro. No dia 9 de setembro de 1930, no Salão Nobre do Círculo Italiano, Martin Braunwieser tomou parte da execução do Quinteto K.V. 407 de W. A. Mozart. Grande acontecimento desse ano foi o sarau de sonatas realizado por Tatiana Braunwieser no dia 3 de dezembro de 1930, no salão nobre da Sociedade Germania. O programa, que incluiu a primeira audição da Sonata (1924) de I. Stravinsky, foi aberto com a Sonata em fá maior, de Mozart. Mário de Andrade, que se referiu à essa sonata como "uma sonata clássica no seu sentido mais puro de forma e espírito", revelou na sua crítica o sentido musicológico do empreendimento, dedicado a dar perspectiva histórica à discussão excessivamente acadêmica da forma sonata entre os professores de S. Paulo: "um sentido novo em que se abandone o mais possível as noções especiais que sempre andaram meio que transplantando a musica da sua realidade exclusivamente temporal, pra um compromisso com o espaço. Esse compromisso impediu bastante e sentimentalisou por demais a evolução musical cristã". 6 No dia 18 de agosto de 1931, Tatiana Braunwieser, juntamente com a sua aluna Else Rösler, realizou um concerto a dois pianos, no qual incluiu a Sonata em ré maior de W. A. Mozart. Essas duas pianistas apresentaram, na Sociedade Germania, no dia 17 de junho de 1932, a Fantasia para um rolo de órgão de Mozart, assim como o Duettino concertante segundo Mozart, de F. Busoni. Desse ano de 1932 cumpre salientar a apresentação do Quarteto n° 1 de Mozart pela Associação Quarteto Brasil, no dia 5 de novembro. No âmbito da atividade de Martin Braunwieser como regente de coros e organizador de concertos da colonia alemã de São Paulo deve ser mencionado, como primeiro evento de particular significado, o concerto religioso realizado na Igreja Evangélica Alemã, no dia 1 de setembro de 1931.O programa incluiu o Quarteto de Cordas em ré menor de W. A. Mozart e o Ave verum, com acompanhamento de órgão (Angelo Camin), obra que passou a ser executada em numerosos concertos do Schubert-Chor, sob a direção de M. Braunwieser. No dia 5 de dezembro de 1931, à frente do Quarteto Vocal Braunwieser, realizou ele um Concerto Comemorativo de Mozart pela passagem dos 140 anos de sua morte, no salão do Círculo Esotérico da Comunhão do Pensamento. O programa, que contou com a participação de Tatiana Braunwieser, Lilly Kietz, Else Rösler e Ferry Preuss, apresentou o Ave verum, o Concerto para piano em ré menor e Bastien e Bastienne.O objetivo dessa iniciativa de Martin Braunwieser foi: 1) fazer jus ao seu dever de filho de Salzburg, comemorando condignamente Mozart , e 2) realizar, em lugar simbólico, um concerto inicial de amplo trabalho de difusão musical popular. Para Martin Braunwieser, que desde os seus primeiros anos no Brasil sempre procurou valorizar a música brasileira e os compositores locais, tal empenho cultural nada tinha a ver com um aberrante nacionalismo que se alastrava tanto na colonia alemã, quanto no meio brasileiro. Como filho de Salzburg, sentiu-se no dever de chamar a atenção aos valores clássicos representados nas grandes obras de Haydn e Mozart. Por ocasião da execução de Die Schöpfung, de J. Haydn, no dia 16 de março de 1933, declarou: "A arte tinha tambem naquele tempo um caráter extra-terrestre e acima de qualquer nacionalismo. A musica podia ter certos motivos nacionaes, mas isso nunca era o principal. O importante era o assumpto interior duma obra e as qualidades da arte não eram julgadas do ponto de vista nacional." O ponto culminante na tregetória do Orpheon do Conservatório Dramático e Musical de São Paulo, sob a regência de Martin Braunwieser, foi alcançado em 1935, com a apresentação de uma Missa de W. A. Mozart. Martin Braunwieser voltou a dedicar-se especialmente ao grande compositor de sua cidade natal por ocasião do ano comemorativo de 1936, realizando um Sarau Mozart, no dia 17 de abril, no Salão Gomes Cardim do Conservatório Dramático e Musical de São Paulo. O programa constou de peças vocais para solo, da Sonata em lá maior para piano e violino, da Sonata em ré maior para dois pianos, do Ave, verum e do Benedictus do Requiem. O texto que acompanhou o programa trouxe as razões da iniciativa de Martin Braunwieser: "W.A.Mozart e sua obra são injustamente quasi esquecidos em nossos dias. Poucos regentes e solistas contemporaneos procuram interessar o publico pela obra immortal deste grande mestre. Será que para elles não tenha o mesmo interesse?- Actualmente podem se distinguir 3 opiniões differentes sobre Mozart. Uma totalmente favoravel, de seus admiradores, sendo estes em numero reduzido. Outra dos que o não apreciam por antiquado e aborrecido e, finalmente, a opinião daquelles que, julgando-o superficial e por demais virtuose, o acham contudo interessante e...agradavel... Esta é a da maioria. A nossa ver as duas ultimas só podem ser justificadas pela falta de preparo e de interesse com que geralmente são executadas as obras do mestre."
Publicado em partes na Correspondência Musicológica, Köln: I.S.M.P.S. e.V. ©Todos os direitos reservados
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